Revolução. A simples menção desta palavra leva-nos a crer que estamos diante de uma revolta que está prestes a melhorar algo ou simplesmente a no mínimo, deixar uma marca histórica.
Heróicos foram aqueles que na época da ditadura militar brasileira exigiram mudanças, dignidade ou simplesmente o que hoje, seria a nossa corriqueira liberdade. Esta que foi fruto de muitas vidas, de muito sofrimento, mas por ironia do destino, ou simples ignorância deste povo muitas vezes desprovido de patriotismo, está sendo deixado de lado.
Durante a ditadura militar, os conceitos de vida eram diferentes, a teoria era diferente da prática, mas principalmente: não existia o termo liberdade. Ao longo dos anos que se passaram nesta ditadura, a estagnação cultural foi tamanha, que apenas atualmente, estamos começando a desenvolver obras dignas de vestir a camisa verde amarela.
Mas como pode um povo tão grande e revolucionário como o nosso deixar a democracia entrar neste imenso país tropical?
Em plena guerra fria, no governo do então presidente João Goulart, o povo brasileiro, como supracitado, começou a formar cada vez mais organizações sociais, tais como movimentos estudantis e organizações de trabalhadores. Tamanha foi à força e a imposição destes grupos para sociedade como um todo, que as partes mais conservadoras como a Igreja Católica, os militares e os grandes empresários temeram que o Brasil acabasse vindo a ser um país socialista. Isto gerou tanta repercussão que até mesmo os Estados Unidos tiveram medo que isso viesse a acontecer.
Com isso, não demorou que as alas conservadoras e os partidos opositores ao governo se unissem com um único ideal: tirar João Goulart do poder, e impedir a disseminação de pensamentos socialistas. As crises políticas começaram cada vez mais a gerar tensões sociais, que teve seu clímax em 31 de março de 1964, onde inclusive as tropas militares tiveram que sair às ruas em algumas regiões para se evitar uma guerra civil, isso fez com que João Goulart se exilasse no Uruguai, deixando vago o cargo presidencial. Com imensa lábia e malícia, os militares e conservadores iludiram a massa brasileira (assemelhando-se muito com o caso do Hitler e os alemães), fazendo-os acreditar que iriam lutar ao máximo para que a crise se desintegrasse e a liberdade e os direitos fossem respeitados. Os militares não tardaram a eleger o seu próprio candidato, Castello Branco.
Começou assim o inferno autoritário, surgiram medidas duras e calculistas, como o bipartidarismo (ARENA – militares e o MDB – oposição moderada e altamente controlada), eleições indiretas para presidente, ou seja, eleitos pelo Colégio Eleitoral, fora os vários cidadãos que tiveram seus direitos políticos e constitucionais cancelados e os sindicatos que receberam intervenção do governo militar.
A opressão fez muitas mentes brilhantes se calarem ou se exilarem, fazendo com que às vezes, essas encontrassem meios alternativos para passar sutilmente uma mensagem de sublevação, tais como: “Vem vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, e não espera acontecer – Geraldo Vandré”, cujo intuito era gerar uma revolta para com o militarismo em relação à censura que se instalava cada vez mais nas entranhas da imprensa.
Com a eminência cada vez maior de revoltas sociais, o governo se viu numa situação onde a única alternativa plausível seria a de abrandar suas atitudes autoritárias, uma vez que, mesmo possuindo um grande arsenal de armas e homens, os jovens começaram a assaltar bancos e seqüestrar embaixadores com o intuito de angariar fundos para a iniciação de uma revolução armada. Mas para a surpresa do povo, não foi bem isso o que veio a acontecer...
Com os atos institucionais sempre tirando a luz da esperança dos brasileiros, veio então o mais duro golpe militar, o AI-5, que incredulamente veio à tona, aposentando juizes, cassando mandatos, acabando com as garantias do habeas-corpus e aumentando a repressão militar e policial.
Não muito tempo depois se segue os “anos de chumbo”, período mais duro e repressivo da ditadura, com repressão à luta armada e com uma severa política de censura, - governo Médici. O fato é que no campo econômico havia crescimento, no entanto se contradizia com o lado político que era cada vez mais de repressão.
Os avanços no campo econômico na época do dito Milagre Econômico do país são inigualáveis comparados com o da nossa história, gerando inúmeros empregos pelo país com algumas obras faraônicas – Rodovia Transamazônica e Ponte Rio - Niterói – e dívidas futuras, devido aos empréstimos do exterior. Não podemos negar que algumas dessas obras foram de suma importância para o desenvolvimento do país, porém tiveram um custo altíssimo, onerando o país até os dias de hoje.
A insatisfação popular em função das altas taxas de juros e outros inúmeros fatores fizeram que o novo governo de Geisel tomasse medidas diferentes em relação ao andamento do país, ocorrendo um processo lento de rumo à redemocratização tão desejada, com uma abertura política lenta, gradual e segura e com o término do AI-5.
Os ventos estão começando a mudar, João Figueiredo – último ditador – decreta a Lei Anistia, permitindo a volta dos brasileiros exilados, e aprova a lei que restabelece o pluripartidarismo no Brasil.
Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresentava grandes problemas, principalmente com a inflação, em que os salários dos trabalhadores não conseguiam acompanhar a alta dos preços. Mesmo com a Emenda Constitucional de 1980 que decretava eleições diretas para governadores percebia-se com as várias fraudes que tudo não passava de pura propaganda e que o povo ainda não havia conseguido sua liberdade.
Por volta desta época, Florianópolis atraiu todas as atenções do Brasil. Novembrada. O então presidente Figueiredo foi recepcionado com o “calor” do povo catarinense. Muitos universitários por estarem revoltados com a ausência do presidente no estado desde a sua eleição, uniram-se com o intuito de organizar uma revolta. Professores, alunos, todos unidos por esse ideal, começaram a distribuir panfletos, num total de 2000, e conseguiram conquistar o apoio de mais ou menos 300 pessoas, as quais foram para o centro da cidade onde a homenagem ao presidente se daria.
Toda a patota elitista se encontrava bajulando o presidente, e, com o sol iluminando a Praça XV de Novembro, para todos os presentes se deu uma cena digna de marcar a história. E marcou. Começou com faixas de protestos, sabotaram a caixa de som e começaram os gritos de revolta os quais a polícia tentou abafar com a Banda da Polícia Militar.
Foi então que por volta de 1984 começou a se organizar a campanha pelas “Diretas Já”, que levou a população às ruas para protestar contra a repressão que estava sendo sujeita há anos. Brigaram pela aprovação da Emenda Dante Oliveira que garantia a eleição direta para presidente naquele ano, o que não aconteceu.
Somente em 1985 com a eleição de Tancredo Neves tivemos um “ensaio” de redemocratização, uma vez que o mesmo recebeu apoio dos militares e dos civis conservadores. Um exemplo é o caso de Sarney que desde 1964 participava de partidos de fachada da Ditadura como o PDS e a ARENA.
Logo após a morte de Tancredo, Sarney assumiu o poder e somente em 1986 com a eleição dos primeiros deputados constituintes e em 1988 com a promulgação da Constituição é que tivemos os primeiros verdadeiros sinais de avanços na redemocratização. As seguidas altas da inflação, o crescimento do desemprego e a seqüência de planos econômicos mostram a persistência da crise econômica brasileira.
Em 1989 temos finalmente as primeiras eleições diretas para presidente com a vitória de Fernando Collor, que teve sua campanha feita através dos “esportes”, que expressava a juventude, que por sua vez era presença massiva das revoltas populares. Porém, acabou se descobrindo o envolvimento do presidente com casos de corrupção, o que levou ao seu impeachment.
Com isso, a inflação só tendeu a aumentar, onde para tentar controlá-la, vários planos foram feitos com esse objetivo, como o Plano Cruzado, o Plano Real, entre outros. Mas mesmo assim, a inflação continuou assombrando a nossa economia, agravando ainda mais a crise econômica brasileira.
Com o desenrolar dos anos, a economia brasileira começou a dar esperanças de que poderia vir a crescer. A inflação foi contida, superávits começaram a surgir, e enfim, nos dias atuais, a situação econômica esta, sem a menor sombra de dúvidas, começando a florescer, conseguindo até começar a pagar uma parte do montante da nossa dívida externa.
Contudo, ainda há muito por fazer e conquistar. Como falar de democracia, direitos e liberdade quando os semi-alfabetizados do país representam boa parte da população? Qual a democracia possível para o idoso que, depois de aposentado sobrevive com um salário mínimo?
As carências do Brasil não são de fundo econômico, mas de distribuição de renda, pois somente com consciência e estruturação, poderíamos pensar numa melhora da democracia, e não é essa a nossa realidade atual, pois com toda essa desigualdade social, a democracia não é nada além de uma utopia brasileira, mas quem sabe, com o fim progressivo da corrupção, talvez possamos usufruir não de uma democracia plena, mas quem sabe, pelo menos, de um lugar mais digno de se viver [...].
Nenhum comentário:
Postar um comentário