0 PROCESSO DE CONQUISTA E DE OCUPAÇÃO COLONIAL NA ÁSIA E NA ÁFRICA
A conquista e a ocupação da Ásia e da África ocorreram através da força militar e da violência. Aventureiros, traficantes, homens ambiciosos fizeram parte das expedições que usaram de todos os meios como saques, destruição de aldeias, escravização da população, requisição forçada de alimentos para o domínio da região desejada.
Os imperialistas defendiam a necessidade de se fornecer proteção aos comerciantes, missionários ou aventureiros que se encontravam longe da pátria. 0 ataque a cidadãos europeus, principalmente religiosos, fornecia o pretexto para a intervenção armada na Ásia e na África. 0 dramaturgo Bernard Shaw assim se expressava sobre os métodos de conquista empregados pelos ingleses:
"0 inglês nasce com um certo poder milagroso que o torna senhor do mundo. Quando deseja alguma coisa, ele nunca diz a si próprio que a deseja. Espera pacientemente até que lhe venha à cabeça, ninguém sabe como, a insopitável convicção de que é seu dever moral e religioso conquistar aqueles que têm a coisa que ele deseja possuir. Torna-se, então, irresistível Como grande campeão da liberdade e da independência, conquista a metade do mundo e chama a isso de Colonização. Quando deseja um novo mercado para seus produtos adulterados de Manchester, envia um missionário para ensinar aos nativos o evangelho da paz. Os nativos matam o missionário; ele recorre às armas em defesa da Cristandade; luta por ela, conquista por ela; e toma o mercado como uma recompensa do céu..." ("The Man of Destiny", citado por LINHARES, M. Yedda. A luta contra a metrópole. São Paulo, Brasiliense, 1983, P. 36).
Na corrida imperialista pela posse de colônias na Ásia e na África, países de civilização tradicional e densamente habitado, como a Índia, a China, a Argélia, foram dominados devido à superioridade tecnológica e bélica dos europeus. 0 uso de fuzis com carregamento pela culatra, de navios de guerra movidos a vapor equipados com canhões de longo alcance, etc, eliminavam qualquer resistência à conquista européia. Apesar disso, as populações locais reagiam e os europeus tiveram que enfrentar guerras em várias regiões, como a Revolta dos Sipaios, na Índia (1857/59) e a Revolução dos Taipings (1851/64), na China.
A presença européia a partir de meados do século XIX, resultou no retrocesso e no empobrecimento das sociedades asiáticas e no acirramento das rivalidades entre elas (muçulmanos contra hindu, na Índia; malaios contra chineses, etc.) No início do século XX, em conseqüência do processo de conquista e de ocupação, a Ásia encontrava-se assim repartida:
- a Inglaterra dominou a Índia (1845/48), a Birmânia e a Malásia;
- a França conquistou, nos anos 1860, a Indochina (hoje Vietnam, Laos e Camboja), dedicando-se à exploração de seus recursos naturais como mi nerais, carvão, seda e arroz;
- a Holanda ocupou o Arquipélago de Sonda ou Índias Neerlandesas (hoje Indonésia), formado pelas ilhas de Sumatra, Java, Bornéu, Celebes e parte da Nova Guine; as terras mais férteis foram utilizadas para a agricultura de exportaçao;
- Portugal manteve as antigas feitorias de Diu e de Goa, na Índia; de Macau na China e uma parte de Timor, no Arquipélago de Sonda;
- o território da China foi dividido em áreas de influência submetidas ao controle de ingleses, franceses, alemães, italianos, japoneses e russos.
Os europeus iniciaram a exploração da África no decorrer do século XIX, visto que até 1800 apenas o litoral era conhecido. A princípio, expedições religiosas e científicas, como as comandadas pelos ingleses Livingstone, Stanley, Burton, pelos franceses Caillé e Brazza, pelo alemão Barth, pelo português Serpa Pinto, atravessaram os desertos de Saara e de Kallaari, subiram os rios Nilo e Congo em busca de suas nascentes, descobriram os lagos Niasa, Tanganica, Vitória, Tchad e cortaram o continente, de São Paulo de Luanda a Moçambique.
De fornecedora de escravos, a África passou a produzir os bens necessários à Europa, tais como café, amendoim, cacau, sisal, borracha, cobre, ouro. 0 interesse científico aos poucos transformou-se em interesse econômico e político e, a partir de 1870, a competição imperialista na África tornou-se acirradíssima.
Em função dessa disputa, em 1885, o chanceler alemão Bismarck convocou a Conferência de Berlim, com o objetivo de disciplinar e definir a repartição "amigável" continente africano, tendo em vista a importância da "missão civilizadora" do homem branco. A Conferência de terminou que qualquer anexação de território africano deveria ser comunicada imediatamente às outras potências e ser seguida de ocupação efetiva para garantir a posse; finalizou com o compromisso de submeter os conflitos coloniais entre as potências, à arbitragem internacional.
Apesar dos compromissos assumidos na Conferência de Berlim, corrida imperialista na África afetou as relações internacionais, contribuindo para intensificar as rivalidades entre os países europeus. Entre os principais pontos de atrito, podemos citar:
a) o confronto entre ingleses e franceses no interior da África, devido à tentativa dos franceses em estabelecer a uniao entre Dakar e Djibuti;
b) o confronto entre holandeses e ingleses na região da África do Sul (guerra dos Bôers
c) a disputa entre França e Itália pela posse da Tunísia, vencida pela França;
d) a disputa entre França e Alemanha, no Marrocos, vencida também pela França.
A resistência das populações africanas à conquista foi tenaz. Os franceses enfrentaram prolongada luta no Marrocos e na Tunísia. Os italianos foram vencidos pelos etíopes, em 1887 e 1896. Os ingleses sofreram derrotas no Sudão. Os alemães lutaram muito para subjugar o povo herero, no Sudoeste Africano. Os zulus, os ashantis, os matabeles e outras tribos ofereceram grande resistência. Entretanto, essas populações não conseguiram suportar as demoradas campanhas empreendidas pelos europeus e acabaram submetidas, após violências e atrocidades de toda sorte.
Os relatos das expedições de conquista trazem descrições como essa, sobre a ocupação do Chade: "Dundahé e Maraua foram as principais etapas antes da Birni N'Koni. Aqui pudemos ler no solo e entre as ruinas da pequena cidade as diversas fases do assalto, do incêndio e da matança... Em torno da grande aldeia de Tibery, os cadáveres de dezenas de mulheres pendiam das árvores próximas... Em quase todas as aldeias por que passamos, os poços estavam fechados ou contaminados por montões de cadáveres que apenas se podia distinguir se pertenciam a animais ou a homens." (GAL, Meynier. Lés conquérants du Tchad, cit. Por FALCON F. & MOURA, G. A formação do mundo contemporâneo. Rio de Janeiro, Ed. Campus Ltda., 1985, p. 88.)
Em 1914, apenas a Etiópia e a Libéria conseguiam manter-se independentes e a África estava assim dividida: - a França ocupou a África do Norte (Argélia, Tunísia e Marrocos), a região do Saara (dividida para fins administrativos em África Equa torial Francesa e África Ocidental Francesa) e a ilha de Madagáscar;
- a Inglaterra incorporou o Egito, o Sudão Anglo-Egípcio, o Quênia, Uganda, Somalia, Costa do Ouro e Nigéria; ao sul, os ingleses anexaram o interior da Colônia do Cabo e através de Cecil Rhodes, surgindo assim as Rodésias; em 1902, numa guerra contra os Boers, antigos colonos holandeses, os britânicos conquistaram o Transvaal e Orange;
- a Bélgica apoderou-se do Congo Belga (Zaire);
- a Alemanha assenhorou-se do Togo, dos Camarões, da África Oriental e do Sudoeste Africano; - a Itália tomou a Eritréia, a Somália e a Tripolitânia (Líbia); - Portugal conservou Angola, Moçambique, Guine e o arquipélago de Cabo Verde; - e a Espanha manteve o Saara Ocidental (Rio do Ouro).
Nenhum comentário:
Postar um comentário