Terminada a Primeira Guerra os EUA se transformaram no motor do capitalismo mundial – o horizonte de expansão econômica norte-americana parecia ilimitado:
a) Eram o maior credor mundial – cerca de 11 bilhões de dólares;
b) Produziam mais de um terço da produção industrial mundial, tendo chegado, em 1929, a controlar mais de 42% dessa produção;
c) Atraíam imigrantes: entre 1900 e 1910 entraram nos EUA perto de 9 milhões de imigrantes europeus;
d) Investiam sobretudo na Europa, o que garantia uma demanda de produtos (os Eua emprestavam dinheiro aos países europeus arruinados pela guerra para que estes comprassem mercadorias das próprias indústrias norte-americanas);
e) No plano interno as vendas deslanchavam devido à expansão da venda a crédito – a população se endividava;
f) De 1923 a 1929 o aumento dos salários nos EUA não ultrapassou seiscentos milhões de dólares, enquanto a produção industrial aumentou em dez bilhões;
g) Apenas uma elite correspondente a 5% da população detinha 1/3 da renda pessoal do país;
h) As empresas aceleravam a emissão de ações – o valor de muitas dessas ações aumentava por simples especulação.
Entretanto, a partir de 1925-1926, o mercado externo começou a restringir-se, pois a Europa, em fase final de reconstrução, retomou sua produção e passou a comprar menos dos EUA. Os empresários norte-americanos, porém, continuaram a produzir na mesma escala, o que motivou a queda dos preços. Os estoques se acumularam, e as empresas recorreram ao crédito bancário para continuar produzindo e fazer frente aos gastos, já que se acreditava que os problemas eram apenas temporários. As dificuldades na produção contrastavam, porém, com a atividade febril da Bolsa de Valores de Nova Iorque – centro nervoso do capitalismo norte-americano -, estimulada pela ilusão da prosperidade sem limite. A alta da bolsa era também estimulada pela facilidade com que os bancos emprestavam dinheiro para a compra de ações – em outubro de 1929 esses empréstimos chegaram a atingir a cifra de 7 bilhões de dólares.
De fato, a venda de ações era estimulada não apenas pelos especuladores, mas também pelas declarações de homens de negócios e políticos, que insistiam em afirmações sobre a boa saúde da economia. Para se ter uma idéia: no dia 15 de outubro de 1929 o presidente do Central dos EUA declarava: “De um modo geral a situação dos mercados é satisfatória pois as cotações têm base sadia em vista da prosperidade do nosso país.” Nove dias depois, em 24 de outubro, na chamada Quinta-feira negra o pânico se instalou na Bolsa de Nova Iorque:12.894.650 ações foram colocadas à venda, sendo que a procura foi praticamente nula...
A crise paralisou a economia norte-americana em razão da quebradeira generalizada:
a) Não havia nenhum sinal de consumo;
b) As empresas demitiam grande parte de seus empregados, quando não chegavam à falência;
A crise alastrou-se e produziu repercussões mundiais em termos econômicos, pois houve corte nos empréstimos, a suspensão das compras no exterior e um agudo declínio da produção, do lucro, do poder aquisitivo e um aumento espantoso do desemprego. O mundo capitalista assistia ao nascimento de uma enorme depressão que durou até 1932. E os dados são contundentes:
a) Nos EUA a produção industrial caiu pela metade, chegando a uma queda, na indústria pesada, de cerca de 75%;
b) Houve destruição de produção em várias partes do mundo: no Brasil, de café; na Argentina, Holanda e Dinamarca, de gado; na França, de trigo; nos EUA, de carros...
c) No início de 1930, havia 3 milhões de desempregados nos EUA, chegando a 7 milhões em fins de 1931 e em 13 milhões em 1933, quando atingia cerca de 27% da população ativa.
d) Em 1933, mais da metade dos alemães entre 16 e 30 anos estava desempregada;
e) a produção industrial caiu 41% na Alemanha, 33% na França e 24% na Inglaterra;
f) Na Alemanha a falta de dinheiro era tanta que o governo passou a cobrar impostos em espécie (batatas, cereais, frutas...) dos agricultores, utilizando esses produtos para matar a fome dos desempregados;
g) Apenas a URSS não foi atingida pela crise, pois estava isolada pelo boicote dos países capitalistas.
REPERCUSSÕES POLÍTICAS DA CRISE DE 1929
A crise de 1929 levou a uma crise enorme também da tese liberal de que o mercado deveria ser deixado livre, pois seria dotado de auto-regulação que o protegia de crises.
Em termos políticos a crise estimulou as críticas aos regimes democráticos e favoreceu os radicalismos tanto à esquerda quanto à direita. Os países com forte tradição democrática, como os EUA, a Inglaterra e a França preservaram a democracia; porém as nações com fraca tradição liberal, como a Itália, a Alemanha, Espanha e Portugal, a crise favoreceu a ascensão de regimes autoritários e foi com o fortalecimento dos governos e a militarização da economia que a recuperação econômica se deu.
O NEW DEAL (1933-1939)
Devido à crise econômica, em 1932, os republicanos foram vencidos nas eleições presidenciais nos EUA pelos Democratas, que elegeram Franklin Delano Roosevelt. Assessorado por economistas da Universidade de Colúmbia, seguidores das receitas do economista inglês John Maynard Keynes (1883-11946) para combater a crise, o governo implantou uma nova política econômica que rompia com o liberalismo econômico clássico, passando o Estado a intervir e a controlar as práticas econômicas. A nova política econômica recebeu o nome de New Deal (Novo Acordo): buscava-se um planejamento econômico baseado na intervenção do Estado.
Uma das grandes novidades do programa econômico elaborado e implementado pelo governo foi dinamizar o sistema de proteção e de defesa dos trabalhadores, um esforço para garantir direitos civis e sociais. Ao assegurar esses benefícios aos trabalhadores, os EUA atualizaram as reformas sociais. Foram medidas adotadas:
a) Buscou-se restabelecer o poder aquisitivo dos trabalhadores: proibiu-se o trabalho de crianças e os salários foram aumentados e estabeleceu-se um valor mínimo para ele;
b) a jornada de trabalho foi reduzida e criaram-se seguros contra o desemprego, velhice, doenças e acidentes;
c) Concedeu-se liberdade sindical, retirando-se as organizações trabalhistas da tutela dos patrões – no novo sindicalismo que nascia e que descontentou profundamente os patrões, os trabalhadores passaram a utilizar-se das greves como forma de pressão.
O New Deal não teve como objetivo alterar a estrutura capitalista, ou seja, não se tratava de uma revolução econômica. Ao contrário, tratava-se de uma forma de salvar o capitalismo de suas próprias contradições e adaptá-lo. Por isso mesmo manteve-se a propriedade privada. Essa perspectiva é muito clara na seguinte declaração do presidente Roosevelt: “Não se deve permitir que nenhum trabalhador passe fome”, ou seja era preciso ver o trabalhador como uma peça importante na engrenagem do mundo da produção. Afinal, a meta principal era manter a propriedade e o lucro e, para isso, tornou-se necessário melhorar o nível de vida dos trabalhadores.
É fácil imaginar a resistência dos empresários capitalista, que chegaram a chamar Roosevelt de comunista. Porém, os capitalistas foram percebendo a necessidade de apoiar as medidas adotadas.
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